Caminhão de tulipas; se reproduz por vivissecção assistida, exibicionista e caridosa. Você diz – não diz? – que me inaugura, não é mesmo? suas mãos sobre as minhas são teias de morte e ardência, e é assim mesmo que eu gosto de nós dois. Nossos olhos – explodindo em bicromátides.
É, eu sou... Será quê? Sim. Seu escritorzinho, só seu, com meu lápis quebrado apontando vagaroso enquanto meus olhos se pregam no seu cabelo, muito mais nos fios fora do lugar. As cadeiras em que nós sentamos – elas são aquilo de macio que existe.
A voz em volta se acarpeteia, enrola. São os sussurros gritalhões que fazem com que eu me sinta em casa. Chegam.
São elas e os outros, são eles e nós. As mãos juntas suam, um pouco mas incômodas. Se fala, se fala. A literatura é o avesso do ovo de Colombo, é isso. Os artesãos das palavras, cavando uma saída de tudo que se faz real.
O interesse se alarga: é uma poça inequívoca, meus pés pegajosos e enlameados me arrastam, desagradáveis, horríveis: sua mão torce meu pulso e me puxa, o abismo-redemoinho é nosso rival, boca de dentes translúcidos.
A intrusa é aquela que todos acolhem melhor que o que s’espera, a espiã não vem do além; os corações se aquecem com sua presença, princesinha. Nós assistimos ao falar, às instruções: três doses de maracujá, uma metralhadora carregada de granadas e dois tiros na testa: está pronto o seu artista.
Eu quero, diga-me, eu quero, quero que escoe sobre mim a poesia e a poesia e a poesia, todas elas, juntas, lambendo meu corpo insinuantes – nada insinuante, explícitas, pornográficas, escatológicas, absurdas, um rio de sangue coberto de pus: essa é a poesia que apetece aos meus (quanta beleza!, quanta certeza!) leitores, os próprios.
Eu sou rijo, sou estante, sou vermelho: sou o ouvido que tenta não ignorar mas que quando te vê se perde, as palavras preciosas passarinham para longe, a rica arte discreta que queremos reproduzir, tudo no ar, sólido: eu esqueço tudo e vejo você.
2 comentários:
como um escritor apaixonado :}
mas uma coisa que notei no fim: é lógico que ninguém procura o normal a sua rotina, querem 'poesias insinuantes' porque é onde o leitor se refugia do real tão cheio de regras. é como entrar num quarto ambientado e começar a reparar ONDE você entrou. e acho que é aí que se encontra a beleza de tudo isso. pode te fazer passar mal, mas é tão fantástico que te faz querer mais.
acho que fugi ao texto...mas vivissecção me produziu efeito adverso: "eca! O_O"
xD
É tão bonitinho te ver crescido, lol.
Postar um comentário