sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

outonàvista

fernando morreu. na islândia ninguém viu. père lanchaise vaziou. mas o que é que é é: no meio do degelo, parecia só bonito. ninguém entendeu. ele ainda reclama, tsc tscando, que toda a hermenêutica nem pra aprenderem um pão na chapa serviu. se bem que as possibilidades: analfabetismo à parte, o quase anonimato foi o menos mal. vidacontinua, bolaprafrente, os filhos dele ainda vão morrer, chove às vezes e ainda bem.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Rei morto, rei posto

Era de se esperar da queridíssima rainha do baile algumatitude mais nobrelesca do que tirar os sapatos e sentar-se ao chão e coçar as bolhas rosa-negras e chorar ranho e poça com os olhos sem foco caídos no seu parceiro; a estafa vencedora. É claro que não esperávamos todos que ela simplesmente majestosamente mantivesse-se de pé, planando real, e lançando olhares soberanos sobre todo o resto dos dançarinos, mas aquilo já era muita falta de decoro. Foi, portanto, apenas uma verbalização accional de todos os nossos pensamentos o que se seguiu, deflagrado por Lordlanclot, suposto amante e futuro construidor de uma malfadada máquina do tempo: apalpar os magníficos seios reais enquanto ela se absortava em seu pesar de luto. Por alguns segundos foi a ignorância, a pausa jacobina em que todos observavam afoitos e aterrorizados o sacrílego deliciar-se: esse momento de tempo estático é um dos muitos que explicam a vocação futura do supracitado nas aventuras temporais, diz-se. Foi então a quebralança: o grito da Nobilíssima, uma mistura de ardor sexual apaixonado, refletindo as estranhas reações psicoquímicas que agem em uma mulher enebriada, e incredulidade ofendida, pois não era muito comum o torcer de mamilos nesse determinado reino. Foi o som necessário para reiniciar o baile interrompido tão cardíaca e precocemente: a rumba rolou solta, contaminando os esqueletos de todos, menos o do pobre rei, estatelado no chão e algum tempo depois varrido para os bueiros pelos serviçais mais aplicados e menos interessados nos costumeiros espancamentos oleosos pós-sujeira mal vistoriada. Os círculos de posição demoraram algum tempo para se reestabelecer, é certo, e a rainha não recuperou o gingado tão rápido quanto deveria, mas em tempo recorde (mais uma para Lordlaclot!) alguma mosca-de-chocolate astutamente observadora já poderia perceber, de seu privilegiado paraíso móvel, os concêntricos no salão devidamente reordenados e a energia colorida por eles perpetrada se reestabelecendo. Logo logo todo mundo alcançou o ritmo vertiginoso, a rumba virou valsa, a valsa virou tango, o tango virou merengue e o merengue, é claro, só podia ter se tornado o break infernal de 1973. Chegou-se ao fim, rituais feitos, fertilidade garantida e todos bem suados e tenros, prontos pra vida voltar: vida longa ao rei, hip hop hurra!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Tremores ou Wicca ou Segunda

Ela treme. Ele diz que se acalme, estica a mão - inútil - para colocar no ombro e insiste que não desista. Não vai desistir, só está nervosa. Campainha. Boa sorte desvanecendo. Um último borrifar e sai, porta bate atrás. O outro diz que está linda, sorri envergonhada. Partem.
(a velha bruna que é coadjuvante de suas atitudes
(...)
que segue do além-túmulo ordens de um marido
Um filé de robalo com ervas misteriosas, algum arriscar. O outro diz como se sente oprimido em um mundo dominado por minorias e lobby, ele, que sempre fora um homem correto e comum. Mais vinho, um toque nas mãos... O outro está sozinho desde que a esposa... Ela também.
que em vida e em morte só se importou com suas maquinações
(...)
que por mais que fossem contrárias ao que é comum só serviam para concretizar uma ordem
Entra trêmula de novo, sentindo-se adolescente. O vestido preto brilha, inexplicável. O cabelo ainda é bonito. O outro se aproxima e seus lábios são secos. Ela estica a cabeça para trás e levanta o pé de leve. O outro a abraça. Caem no chão.
que transforma as mulheres em escravas eternas
(...)
que não vêem saída pois foram moldadas em uma conduta
Estão nus no tapete e o outro diz que ela é mágica. Ela enrubesce, e deita-se nele. As rugas são lembranças, diz. O outro dorme abraçado nela, feliz. A parede é cinza de um jeito desinteressante, mas isso vai mudar.
que reflete a vontade masculina mesmo em atitudes teoricamente passionais
(...)
que são na verdade reafirmação do patriarcado
Ela esfaqueia o corpo adormecido do outro e logo faz, com precisão de profissional, os rituais de magia negra necessários para que o fantasma de seu marido, um satanista assassinado por um padre sensato demais, retorne possuindo o corpo do outro. As palavras são logo entoadas e o cadáver ensanguentado se levanta, beijando-a logo em seguida. Os dois se casam no dia seguinte. Ela treme levemente.
e por isso na lua-de-mel ela o matou, dessa vez pra sempre.)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

um castelo

, outros gostam da Habanera, não é uma questão de certo ou errado, são mais dédalos: Sartre e Cortázar sempre foram da primeira opção, o único grupo que os conteve; já Joyce e Friggins penderam mais a Bizet, a herança irlandesa pesando, Friggins, contista mais genial do Eire, menosprezado e subestimado por ser antiquado ou convencional, talvez, mas assim mesmo, se Poe surgisse entre nós hoje, seria ainda bom, não?; Carolina gostava de ler comigo dele 'A Boneca de Mary', o último conto escrito antes de se lançar à Mancha, pode-se ver um pouco de Carmen nesse, de noite, quando estava nua e depois deitar-se em frente à lareira, cantarolando, sereia; mas enfim, foi isso que eu disse a ele antes de finalmente atravessá-lo com a espada e finalmente sentir meus pés no chão, totalmente, a lua brilhando absurda e azulada no meio das sebes, os olhos de meu pai pesados sobre toda a grama perfeita, ecoando nosso último jantar antes da Espanha e seu sorriso ao derrubar a pimenta, o tilintar que fazia ao respirar; quis lhe explicar, um pouco, ao menos, os porquês e os etcetais, juiz e forasteiro, ele sorriu e não sei se concordou, o sol pareceu retorcer, deixei-o caído, os cachorros amanhã etc, os degraus fora de ordem subi ziguezagueando para o quarto esvaindo e não consegui fechar a porta, silêncio

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

vão

disse que gostava de beco porque era escuro, disse que voltava um dia quando fosse hora, disse que não tinha tempo e não era séria, disse que queria mas tinha que ir embora.