segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Rei morto, rei posto

Era de se esperar da queridíssima rainha do baile algumatitude mais nobrelesca do que tirar os sapatos e sentar-se ao chão e coçar as bolhas rosa-negras e chorar ranho e poça com os olhos sem foco caídos no seu parceiro; a estafa vencedora. É claro que não esperávamos todos que ela simplesmente majestosamente mantivesse-se de pé, planando real, e lançando olhares soberanos sobre todo o resto dos dançarinos, mas aquilo já era muita falta de decoro. Foi, portanto, apenas uma verbalização accional de todos os nossos pensamentos o que se seguiu, deflagrado por Lordlanclot, suposto amante e futuro construidor de uma malfadada máquina do tempo: apalpar os magníficos seios reais enquanto ela se absortava em seu pesar de luto. Por alguns segundos foi a ignorância, a pausa jacobina em que todos observavam afoitos e aterrorizados o sacrílego deliciar-se: esse momento de tempo estático é um dos muitos que explicam a vocação futura do supracitado nas aventuras temporais, diz-se. Foi então a quebralança: o grito da Nobilíssima, uma mistura de ardor sexual apaixonado, refletindo as estranhas reações psicoquímicas que agem em uma mulher enebriada, e incredulidade ofendida, pois não era muito comum o torcer de mamilos nesse determinado reino. Foi o som necessário para reiniciar o baile interrompido tão cardíaca e precocemente: a rumba rolou solta, contaminando os esqueletos de todos, menos o do pobre rei, estatelado no chão e algum tempo depois varrido para os bueiros pelos serviçais mais aplicados e menos interessados nos costumeiros espancamentos oleosos pós-sujeira mal vistoriada. Os círculos de posição demoraram algum tempo para se reestabelecer, é certo, e a rainha não recuperou o gingado tão rápido quanto deveria, mas em tempo recorde (mais uma para Lordlaclot!) alguma mosca-de-chocolate astutamente observadora já poderia perceber, de seu privilegiado paraíso móvel, os concêntricos no salão devidamente reordenados e a energia colorida por eles perpetrada se reestabelecendo. Logo logo todo mundo alcançou o ritmo vertiginoso, a rumba virou valsa, a valsa virou tango, o tango virou merengue e o merengue, é claro, só podia ter se tornado o break infernal de 1973. Chegou-se ao fim, rituais feitos, fertilidade garantida e todos bem suados e tenros, prontos pra vida voltar: vida longa ao rei, hip hop hurra!

2 comentários:

hnrchcrnh disse...

Um Rei á MILANESA, é o que eu digo.

La Vache qui rit disse...

Futuro rei do rap. Muito bom, muito bom!