segunda-feira, 12 de maio de 2008
Arte
Luís Buñuel, cineasta espanhol, em palestra sobre Surrealismo na Universidade de Sorbonne, Paris, 1968.
"Quando eu era criança... Consigo lembrar bem de uma coisa. A primeira vez que eu li um gibi do Flash Gordon. Manhã, cinza, a Guerra já chegando no fim. Minha mãe sentada olhando. Um primo chega, vai conversar com ela - deixa o gibi na minha mão, me despacha. No começo eu ainda ouço um pouco da conversa deles - soluço engasgo choro etc - mas depois de um tempo curtíssimo eles simplesmente desaparecem. É só ZUM FLASHT BANG POFT BOING ARBHRHAKZ, a luz do quarto se dissolvendo e meu corpo deixando de ter sentido, aquela coisa toda tremendo na minha mão, e minha consciência resolvendo voltar - jazz no vizinho, bee-a-boo-la-beebop-boob-ba, os compassos tremendo em mim - foi meu primeiro orgasmo e quando decidi o que queria fazer da vida."
Thomas Pynchon, escritor norte-americano, em palestra privada na comemoração dos 30 anos de publicação de 'Gravity's Rainbow'.
"Não entendo a obsessão que nós, ocidentais, parecemos ter com a guerra, quando há tantas coisas mais interessantes no mundo - mulheres, por exemplo. Mas o louco devo ser eu, obviamente."
Gustav Klint, pintor austríaco, em carta a amigo, semanas após o estopim da I Guerra Mundial.
"Não acredito em uma causa negra, não acredito em uma causa dos pobres, não acredito em nada do que costumam me dizer, mas gosto que me digam. Eu compartilho o que não acredito com todos meus amigos, eles gostam. A única vez em que acreditei em algo, que me lembre, foi ontem, no palco, quando o suor cobriu meu rosto inteiro e eu nem conseguia mais soprar direito e assim mesmo a música continuava saindo. Você acredita em mim?"
Miles Davis, músico norte-americano, em ligação telefônica a uma de suas amantes interceptada pelo FBI.
"Felizmente eu não me preocupo com esse tipo de coisa, não mesmo, já superei essa fase há tanto tempo... O que eu faço agora é muito mais importante, interessante e tudo mais. Ah, o quê? Não, é claro que eu não posso te contar, qual seria a graça? O que eu posso dizer é que o que eu faço hoje está para o que eu fazia antes assim como o que eu fazia antes está para a vida, ou algo assim. Qualquer dia você vê. Prometo que você vai se surpreender."
Adolph Hitler, ditador alemão, em carta aberta à mãe, parentes e conhecidos, 1935.
domingo, 11 de maio de 2008
sábado, 10 de maio de 2008
Arte
O que há de s'admirar são os espaços vazios, as lacunas que s'atravessa com tanta sem-cerimônia, pouco vistas, pouco bem quistas, pouco tudo, por isso tão perfeitas.
Contornos ensolarados em ombros; meu amor de nanquim.
O topo da toca de tudo, e é lá. Se é assim, entrelaçado. A garganta e os olhos e tudo se fecham, não há mesmo capacidade pra se continuar. De todos os lados.
Deita-se no chão, cai-se, não sei. Não sabe. Palavra não há, após isso. Talvez só palavra disso.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Arte
É horrível estar cercado de arte o tempo todo. Se digo isso e você pensa em um homem amargo e velho sentado em sua poltrona reclamando com voz rouca, não continue lendo. Me fiz entender mal e já está tudo estragado. Os restantes: vamos.
A arte me irrita, me dá alergia. O grande legado imortal dos gênios brilhantes me cercando em prateleiras, enquanto eu sumo mais um pouco. Arte é pra masoquistas, punheteiros, idiotas, etc.
Quando eu conto uma história não é arte, é mentira. Só digo essas coisas pelo prazer de enganar os outros. Gosto quando elogiam, rio depois.
Se eu escrevo isso é por falta de opção. Por tédio e preguiça de me levantar. Melhor: é um inconveniente, como cagar.
As pessoas ao falar de arte viram todas idiotas. Os olhos começam a brilhar, ficam excitados, a saliva respinga, piscam excessivamente, as pernas ficam inquietas. É horrível de se ver, parece que viraram macacos. As palavras que eles usam... São absurdas, idiotas, a mais aberta representação de deficiência mental.
O pior é exigirem arte de você. Pinte um quadrinho, meu bem. Tons pastéis, só pra mim. Pornografia disfarçada do pior tipo. Esculpe, assim, praquele amigo meu. Proxenetismo.
Aí eles vêm e dizem escreve um texto. Desse jeito, pra chocar. Nosso rebeldezinho. Eles pedem do jeitinho que eles gostam. E escreve, escreve. Eles dançam na sala do lado, um baile de máscaras vitoriano com uma orgia no meio. A grande cultura. Você só consegue se masturbar porque fica entediado. É óbvio o que eles querem de você, não que faça diferença.
E aí foi: a história de um escritor de vinte e três anos que enlouquece.
Correndo pra fora do prédio, roupa cheia de sangue e encarando devagar todos que cruzam. Ele só carrega um lápis, também ensangüentado. Sombras caligarescas, enfim. Edificações oblíquas contribuem para a paisagem necessária a esse tipo de personagem.
Perna desengonçada capota torta; desliza rua abaixo. Queda acentua a dramaticidade, é necessária. Três milhões de olhos o acompanham derrepente, o machucado na pern’arde. A boca aberta: as palavras se engasgam, se atropelam, não há como explicar.
Círculo se fechando, o raio diminui em progressão geométrica. O ar rareia, pode-se ver que o personagem não tem mais fuga, sombras projetadas sobre seus olhos, prestes a desaparecer.
Desaparece.