segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Dessolução

Se trancou no quarto e prometeu pra sempre ser uma boa pessoa; havia uns dois ou três ou mil livros nas prateleiras que ele ainda não tinha conseguido ler. Amanhã, sem falta.

(...)

Todos se abraçaram sem respirar por nem um segundo; era a utopia dos atlantes. Os sorrisos conseguiam ser mais do que luminosos, talvez assimétricos. Deitaram-se.

Por fim, as coordenadas coordenaram-se implosivamente e tudo se achatou, só Thiago sentiu falta dele, mas nem tanta. E ele? Foi pra outro lugar, e ficou tudo bem.

:
(verde-limão, três metros de altura, billie holliday, iluminado, sorvete flambado, unhas lisas, discurso indireto livre, avestruzes, adstringência, pernambuco, sol.)


[mais uma vez
]

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

festausente

pra esfriar:

(1993, 2001, 2008)

Ping
pong
infinito;

eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo não vai embora por favor não me deixa sozinho me deixa te abraçar me deixa por favor me deixa por favor não me deixa por favor

Desligou;
desceu
pépòspé
até a sala lotada:
saloon prosopopéico enchidamente tresloucado de
mulheres inseguras mães procurando aprovação
quasevelhos bêbados rindo irrestritos sem clue
[cacoete britânico, meu velhamigo sherlock, se engraçando com as mães de todas as nossas amigas puríssimas que procuram por aí homem que as coma melhor]
as afeições flutuantes
imagens quebrilham
(vermelheverde)
manjar.

- Eu vou dormir, feliz



!



sem beijos.

sábado, 13 de dezembro de 2008

uma chance

zero

caprichos e beijinhos e um carinho sem fim, deitados ladoalado de mãos dadas, são sabe-se lá quantos anos de edredons enrolados se acobertando e ela coloca os olhos sobre ele e enobrecida diz adeus, sem tocar

Outra:

Thiago e Fernanda estão na fila do supermercado, classicamente, de madrugada, não sonolentos, entediados, ela vinho ele cerveja, alguns chocolates, macarrão. Só um caixa: só um caminho. Espaços vazios e brancos, música de câmara moderna, algum rock perdido dos anos 80. Eles vão juntos e de voz rouca Thiago deixa passar, murmura incompreensível, sorri, ela sorri. Passa, coloca o vinho e os doces sobre a esteira e espera a funcionária sonolenta
[e há de se pausar um momento pois a funcionária sonolenta é também Carla, cinquenta e sete anos, recém-divorciada, marido em Brasília, que se reinventa não dormindo e pagará uma plástica em sete vezes, mora na Conceição, nunca teve filhos, tem um namorado intermitente que é talvez bombeiro, dorme menos do que gostaria, sua casa é pouco mobiliada, não é triste, sempre pinta as unhas de verde, como dizem os manuais de roteiro, e amanhã ela vai pra um churrasco da turma da faculdade - assistente social formada - e acabará fazendo sexo com um Fernando do qual ela não se lembra e talvez seja um penetra que nunca foi da faculdade no quarto dos fundos enquanto geme devagar]
passar as compras olhando para trás, discreta, porém nem tanto, analisando de leve Thiago, que a olha nos olhos uma ou outra vez, ensaiando alguma aproximação. As compras, no entanto, avançam lenta e inexoravelmente até o fim, e Fernanda paga lentamente tudo no cartão, olha mais uma vez para trás, nada é dito, e vai embora.

Bis:

Ele fode bem, mas nem tanto, não é a melhor da vida dela, ela lembra do Caio, que conseguia mexer o pau de um jeito diferente, ele girava e metia ao mesmo tempo, na cadência certa, e ela sentia que conseguia agarrar ele completamente tanto com a boceta quanto com as mãos e puxar ele completamente e nunca conseguia ficar sem gritar, eram sempre unhas e arranhões, ele era um idiota, mas conseguia lamber o pescoço dela sem parecer um idiota e morder de leve e com força, não que seja ruim, ele não é afobado, não é violento nem sem graça, mas não é tão bom quanto caio, e talvez pensar nisso agora seja um mau sinal, ela sente as pernas dele batendo nas dela de vez em quando, de leve, e ele não está suando, as pernas tão secas, é estranho, não sabe explicar direito, talvez o pior seja gemer, ele geme o nome dela, Fernanda, ela meio que odeia isso, mas não sabe o que fazer, mas tudo bem, ele segura ela pelas costas e puxa pra perto e ela goza, e é bom, eles ficam assim juntos bem perto um tempo e é bem bom, sim, sentir a mão dele no cabelo e o corpo junto, ele parece mais suado agora encostado nela, o pau ainda dentro, amolecendo bem devagar, ela deixa o corpo cair em cima dele e ele brinca com os peitos dela e com o cabelo e não é ruim, não mesmo, não se arrepende, foi bem melhor do que a primeira vez e qualquer dia ela sai com aquele Thiago, ou não, tanto faz, nem tava nada marcado direito.

dista:

T = 49°33' O 21°52' S
F = 61°28' N, 14°11' E.
impossível, etc: ausência inevitável.

quadrado:

que amava que amava que amava que não amava, em função do tempo e do calor, e nunca chegou a coincidir: talvez 23 de fevereiro de 2001, não sei, mas era um eclipse e todos estavam ocupados olhando pra lua e não se viram.

Epicentro:

Vinte e dois anos depois de uma festa na zona oeste de São Paulo na casa de um certo Gastão Asdrúbal, Thiago Fernandez casou-se, com muita pompa e estilo, com Alice Meirelles. Os dois pombinhos têm três filhos prévios ao casamento; Alice é dentista e herdeira, Thiago é ex e administrador. Fernanda Schveck, namorada de Gastão vinte e dois anos e meio atrás, não foi convidada.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sagradíssima

I

Estou ind'embora
já passa da hora!
beijo pra você e espero
que fique tudo bem
(mas nem tanto
que não me importa).

II

(nove anos depois)
- Bom dia, amor, bom dia! O sol parece tão lindo daqui do lado de fora! Abre a porta pra eu ver melhor!
- Como você está bonita! Nem um dia se passou! Seu rosto não tem marcas, seus peitos não têm peso e sua boceta não é larga! Meu amor por você ainda é tão forte e constante quanto a torrente irrefreável da mais intensa queda d'água de Iguaçu no mais majestoso mês de chuvas! E você, filho! Um homem feito já! Vejo pelo seu sorriso que estraçalha corações e hímens na escola e é feliz! Espero que esteja tirando boas notas e aprendendo muito, que a vida não é fácil! Mas é boa! E agora me tragam um uísque que eu vou ler o jornal.

III

Um buraco no meio da casa: uma faixa estreita de luz vaza gosmenta de lá, espalhando-se lentamente pelas paredes alaranjado-mortas que se deitam por aí. Meia dúzia de bombas caindo no quintal e meia dúzia de minas enterradas matando queroqueros atrevidos, um paraíso tropical. O som de abrrrrupuguns é sobrepujado ineducadamente por vozes translúcidas que vazam de longe amareladas e entoam algo canticular em tornadilhos. Oh Maria salve todos nós, e é como se aquilo Fosse.

Pós

Não há tempo a perder, é o último vôo e só há um assento sobrando e logo há verbos no ar