segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sagradíssima

I

Estou ind'embora
já passa da hora!
beijo pra você e espero
que fique tudo bem
(mas nem tanto
que não me importa).

II

(nove anos depois)
- Bom dia, amor, bom dia! O sol parece tão lindo daqui do lado de fora! Abre a porta pra eu ver melhor!
- Como você está bonita! Nem um dia se passou! Seu rosto não tem marcas, seus peitos não têm peso e sua boceta não é larga! Meu amor por você ainda é tão forte e constante quanto a torrente irrefreável da mais intensa queda d'água de Iguaçu no mais majestoso mês de chuvas! E você, filho! Um homem feito já! Vejo pelo seu sorriso que estraçalha corações e hímens na escola e é feliz! Espero que esteja tirando boas notas e aprendendo muito, que a vida não é fácil! Mas é boa! E agora me tragam um uísque que eu vou ler o jornal.

III

Um buraco no meio da casa: uma faixa estreita de luz vaza gosmenta de lá, espalhando-se lentamente pelas paredes alaranjado-mortas que se deitam por aí. Meia dúzia de bombas caindo no quintal e meia dúzia de minas enterradas matando queroqueros atrevidos, um paraíso tropical. O som de abrrrrupuguns é sobrepujado ineducadamente por vozes translúcidas que vazam de longe amareladas e entoam algo canticular em tornadilhos. Oh Maria salve todos nós, e é como se aquilo Fosse.

Pós

Não há tempo a perder, é o último vôo e só há um assento sobrando e logo há verbos no ar

5 comentários:

hnrchcrnh disse...

Circo + redenção + alcoolismo = apocalipse.

A Igreja estava certa, afinal de contas.

Devo dizer:
o mais-que-manjado Boléro de Ravel cairia neste texto tão bem quanto Cointreau num copo de Chivas Regal.

Clementine disse...

"Seu rosto não tem marcas, seus peitos não têm peso e sua boceta não é larga!"

Bukowski ficaria intrigado.

Illyana B. disse...

maria salve todos nós! menos os quero-queros!!! \o/
espécie maligna! ._.

uma hora tudo está bem, outra hora tudo é morte... :/ isso parece uma onda com altos e baixos

Cidadão ³ disse...

Isso tudo parece problemas psicomotores.

Anônimo disse...

'Não há tempo a perder, é o último vôo e só há um assento sobrando e logo há verbos no ar.'

É quase uma frase solta realmente muito boa, se tivesse qualquer contexto então.