sábado, 28 de abril de 2012

nuvem

   Leandro não, porque era burro. Marcelo não, era muito rico. Marcos não, porque era feio. Maurício não, falava demais. Tiago não, era judeu. Sobrou então Fernando para vencer.
   
   Começa simples: na escola, um dia, percebe que sua prova era outra. Resolve-a como sempre resolvera, sem pensar muito. Depois conversa com os colegas e as questões são diferentes. Não totalmente, mas as dele pareciam todas ter uma informação a mais. Uma mistura de dica e mensagem. Ignora; por que pensar sobre isso?

   Depois as mulheres o amam mais. A gasolina custa um pouco menos. Acorda e o cabelo está penteado. As lâmpadas acendem quando se aproxima. Os temperos sempre vêm de acordo com seu gosto.

   Aos 23, faz-se um filme quase por acaso. Todos parecem um pouco mais qualificados do que se esperaria. Os críticos encontram nuances nas palavras do roteiro e nos olhos dos atores nas quais ele nem pensara. É um sucesso, na medida do possível - do seu possível.

   Sua carreira avança independente de sua vontade - as coisas fazem-se a si mesmas. O quarto filme é um libelo - contra tudo de ruim e por tudo de bom. Todos que vêem se sentem representados. É eleito prefeito.

   Enquanto governa, os impostos caem e os empregos crescem. Nenhum escândalo. Ele não se lembra de metade das coisas que faz. Casa-se com uma mulher boa. A festa é transmitida na tv - muitos rezam por sua felicidade e para que ela esteja à sua altura.

   Acorda um dia presidente. Outros países anseiam por serem absorvidos pelo seu. É declarado filho de Deus. As crianças que o beijam aprendem a voar. Para de envelhecer. Quem o vê desiste de guerrear.

   Certo dia todo o mundo vai para o céu. Menos ele, que fica sentado jogando cartas.

   Todos voltam anos depois e o matam. Vai para o inferno e descansa. 
   
   Eles começam a pensar no próximo. Se não, o quê?