quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Trinca
Lambeu o sangue dos lábios; ainda era tarde. Piscou três vezes e redeitou-se. Três horas depois: descobre.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Prólogo
O homem caminha lentamente com as mãos no bolso, escondendo a falta de cuidado com a escrita que qualquer um perceberia facilmente. O homem caminha. Sobre o homem: luzes elétricas vindas de postes altos que circulam ao redor de todos os prédios ao redor. Ao redor, menos especificamente, centenas de milhões de pessoas. O homem caminha para dentro de um prédio e o ao redor desaparece: paredes.
Aí ele sobe a escada e ele entra na casa andando no ritmo dele mesmo. Ele vai bem bem bem e nem choveu hoje, graças a deus! Ela tá deitada no sofá esperando, sem roupa nenhuma. Ela também tá deitada no sofá esperando, sem roupa nenhuma. Ele diz oi tudo bem que que vocês fizeram hoje e elas dizem que treparam e ele diz que bom e diz que vai se trocar e que odeia aquele terno, mais do que tudo. Elas dizem que tudo bem e que sem pressa. Ele anda até o quarto e se troca.
Pedro sai do quarto de shorts e de chinelo coçando a nuca e ele está um pouco acima do peso. Seu IMC é de aproximadamente 26,122 (Peso: 80kg; Altura: 1,75m) mas isso não se traduz diretamente em desagrado estético, pois a maior parte de seu sobrepeso se concentra em áreas de seu corpo pouco avistáveis, como a parte anterior de suas coxas.
Ele se aproxima das duas sorrindo e se senta meio deitando no sofá, entre elas. A voz sai em sincronia das duas gargantas perguntando “Como foi o seu dia?”. Elas sorriem adoravelmente. Ele diz que foi tudo normal, nada fora do comum, como quase sempre. Diz que almoçou com o Jorge, “Vocês se lembram do Jorge?”, e que ele havia feito uma proposta.
Jorge havia feito uma proposta. Não Pedro. Jorge havia dito que a empresa dele poderia crescer. A empresa de Pedro. Não a de Jorge. Jorge não era dono de uma empresa. Ele trabalhava como consultor. Para empresas. Ele havia dito que Pedro deveria começar a fazer negócio com outro tipo de clientela. Maior e mais ampla. Crescimento dos negócios. Pedro disse que pensaria. E então ele mordeu a carne de vitela. De animal jovem. Tenra. Ele nunca mordera um bebê.
- Ah, só aconteceu uma coisa de diferente hoje.
- O quê?
- Tive de passar por uma esterilização total, depois que um cara esguichou sangue em mim por causa de uma facada mal aplicada. Acharam que talvez ele tivesse uma doença. Foi bom, testamos a nova máquina de limpeza total. Funciona bem, sem dor nenhuma.
- Ai, querido... Você tá bem? Ficou preocupado?
- Não, nada.
O homem se inclina sobre a mulher mais próxima – a que tem o cabelo loiro – e encosta o seu lábio no dela de leve, enquanto estica o braço esquerdo para o lado oposto, segurando com pouca força o seio da mulher mais longe – a que tem o cabelo preto – e a puxa de maneira gentil para perto. Ele se afasta alguns centímetros da mulher de cabelo loiro e sussurra algo para as duas. Ambas riem. Seus lábios fazem uma curva e pousam sobre o pescoço da mulher de cabelo preto, enquanto sua mão direita navega até o meio das pernas da mulher de cabelo loiro. Ela se contorce levemente e ri.
O universo se contrai com uma explosão – dois homens parados ao lado do trio que sorri espatifado sem saber o que murmurar: “Vocês estão presos por imoralidade e absurda ausência de compatibilidade” – Pedro está de alguma maneira segurando uma arma que ninguém sabe de onde veio, apontando para a mulher loira, dizendo que a cabeça dela vai explodir e sujar o corpo dos guardas, e que ela é bastante doente e que eles não gostariam de arriscar uma contaminação com o que quer que seja que tem no seu sangue – o guarda mais alto, segurando uma sub-metralhadora , hesita, e é o suficiente para que uma bala atravesse o seu cérebro em uma instante rápido demais para ser descrito – o outro guarda grita quando os pedaços de cérebro cobrem o seu rosto, mas não tem muito tempo para se preocupar ou ficar horrorizado. Pedro joga a arma para longe, fora da janela. “Acho que vou ter de sair. Vocês continuam sem mim?” “Claro. Mais tarde, no bar de ontem?” “Se eu não aparecer por lá, talvez nunca.”
O homem saiu, as mãos nos seus bolsos, olhos apertados, os prédios em volta: ausência revolta. Sorriu a si mesmo, pensar no futuro, longe de seu prédio, virou-se e sumiu.
O escritor se debruça ao contrário e estrala as costas, sorrindo satisfeito, quando começa a vomitar incontrolavelmente. Cai morto alguns segundos depois.
- Testando. Testando. Oi. Vocês ouvem bem? Meu nome é Pedro. Eu invadi essa rádio pra dizer só uma coisa: era mentira, ok? O que disseram era provavelmente mentira. Eu nem sei o que disseram, mas era mentira. Certo? Certo. Agora que tiraram isso do caminho podemos começar, eu acho.
Aí ele sobe a escada e ele entra na casa andando no ritmo dele mesmo. Ele vai bem bem bem e nem choveu hoje, graças a deus! Ela tá deitada no sofá esperando, sem roupa nenhuma. Ela também tá deitada no sofá esperando, sem roupa nenhuma. Ele diz oi tudo bem que que vocês fizeram hoje e elas dizem que treparam e ele diz que bom e diz que vai se trocar e que odeia aquele terno, mais do que tudo. Elas dizem que tudo bem e que sem pressa. Ele anda até o quarto e se troca.
Pedro sai do quarto de shorts e de chinelo coçando a nuca e ele está um pouco acima do peso. Seu IMC é de aproximadamente 26,122 (Peso: 80kg; Altura: 1,75m) mas isso não se traduz diretamente em desagrado estético, pois a maior parte de seu sobrepeso se concentra em áreas de seu corpo pouco avistáveis, como a parte anterior de suas coxas.
Ele se aproxima das duas sorrindo e se senta meio deitando no sofá, entre elas. A voz sai em sincronia das duas gargantas perguntando “Como foi o seu dia?”. Elas sorriem adoravelmente. Ele diz que foi tudo normal, nada fora do comum, como quase sempre. Diz que almoçou com o Jorge, “Vocês se lembram do Jorge?”, e que ele havia feito uma proposta.
Jorge havia feito uma proposta. Não Pedro. Jorge havia dito que a empresa dele poderia crescer. A empresa de Pedro. Não a de Jorge. Jorge não era dono de uma empresa. Ele trabalhava como consultor. Para empresas. Ele havia dito que Pedro deveria começar a fazer negócio com outro tipo de clientela. Maior e mais ampla. Crescimento dos negócios. Pedro disse que pensaria. E então ele mordeu a carne de vitela. De animal jovem. Tenra. Ele nunca mordera um bebê.
- Ah, só aconteceu uma coisa de diferente hoje.
- O quê?
- Tive de passar por uma esterilização total, depois que um cara esguichou sangue em mim por causa de uma facada mal aplicada. Acharam que talvez ele tivesse uma doença. Foi bom, testamos a nova máquina de limpeza total. Funciona bem, sem dor nenhuma.
- Ai, querido... Você tá bem? Ficou preocupado?
- Não, nada.
O homem se inclina sobre a mulher mais próxima – a que tem o cabelo loiro – e encosta o seu lábio no dela de leve, enquanto estica o braço esquerdo para o lado oposto, segurando com pouca força o seio da mulher mais longe – a que tem o cabelo preto – e a puxa de maneira gentil para perto. Ele se afasta alguns centímetros da mulher de cabelo loiro e sussurra algo para as duas. Ambas riem. Seus lábios fazem uma curva e pousam sobre o pescoço da mulher de cabelo preto, enquanto sua mão direita navega até o meio das pernas da mulher de cabelo loiro. Ela se contorce levemente e ri.
O universo se contrai com uma explosão – dois homens parados ao lado do trio que sorri espatifado sem saber o que murmurar: “Vocês estão presos por imoralidade e absurda ausência de compatibilidade” – Pedro está de alguma maneira segurando uma arma que ninguém sabe de onde veio, apontando para a mulher loira, dizendo que a cabeça dela vai explodir e sujar o corpo dos guardas, e que ela é bastante doente e que eles não gostariam de arriscar uma contaminação com o que quer que seja que tem no seu sangue – o guarda mais alto, segurando uma sub-metralhadora , hesita, e é o suficiente para que uma bala atravesse o seu cérebro em uma instante rápido demais para ser descrito – o outro guarda grita quando os pedaços de cérebro cobrem o seu rosto, mas não tem muito tempo para se preocupar ou ficar horrorizado. Pedro joga a arma para longe, fora da janela. “Acho que vou ter de sair. Vocês continuam sem mim?” “Claro. Mais tarde, no bar de ontem?” “Se eu não aparecer por lá, talvez nunca.”
O homem saiu, as mãos nos seus bolsos, olhos apertados, os prédios em volta: ausência revolta. Sorriu a si mesmo, pensar no futuro, longe de seu prédio, virou-se e sumiu.
O escritor se debruça ao contrário e estrala as costas, sorrindo satisfeito, quando começa a vomitar incontrolavelmente. Cai morto alguns segundos depois.
- Testando. Testando. Oi. Vocês ouvem bem? Meu nome é Pedro. Eu invadi essa rádio pra dizer só uma coisa: era mentira, ok? O que disseram era provavelmente mentira. Eu nem sei o que disseram, mas era mentira. Certo? Certo. Agora que tiraram isso do caminho podemos começar, eu acho.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Conjunto
A folha descendo muito devagar sem ninguém ver -- as crianças estão aí perto, sabe, brincando, só correndo uma atrás da outra sem pensar muito -- mais tarde eles vão à igreja, e vão fechar os olhos juntos e pensar juntos -- você pode chegar mais perto? eu nem consigo ver o seu rosto direito -- a praça anda tão cheia de gente, eu ouço a música do meu quarto -- à noite, todos se encontram e falam sobre nada importante -- o assobio que não se sabe de onde vem percorrendo tudo -- eles jantam em casa à noite, sem falta, faz tempo, você sabe -- o espaço vazio na madrugada -- todos entrando silenciosa e respeitosamente, olhos no chão... -- a mão dela na mão dele, sem planejamento nem... --- a água se espalhando para todos os lados possíveis, os pés e pernas voando -- o chute para longe e o assombro -- ela pede com voz manhosa e baixa, por favor, deixa eu ficar -- as mãos que procuram o certo -- o pedido sem coragem -- ela disse que me ama, sabe, eu nem podia...
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Resumo
Serpente casual cravando os dentes na melodia: ele.
Silvou-se até o canto e propôs: ela.
Sussurrou sem pudor o esquema: isso.
Seguiu para longe livre de certezas: aquilo.
Sentiu os passos atrás hesitando: juntos.
Soube a mudança dos caminhos todos: curva.
Serviu os encantos certos e certeiros: ganho.
Sabiá assobia o rumo dos encontros: eles.
Silvou-se até o canto e propôs: ela.
Sussurrou sem pudor o esquema: isso.
Seguiu para longe livre de certezas: aquilo.
Sentiu os passos atrás hesitando: juntos.
Soube a mudança dos caminhos todos: curva.
Serviu os encantos certos e certeiros: ganho.
Sabiá assobia o rumo dos encontros: eles.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
DVS
O Jovem Artista Idealista de Olhar Sonhador (JAIdOS) senta na cadeira ao lado da janela, com os olhos fixos no mundo afora, a luz transformada em milhões de pontos brilhantes lambendo o seu rosto, seu coração pulsando junto do mundo, em dezenas de batidas intensas que fazem circular toda sua Magnífica Energia, sua Belíssima Alma. Ele respira fundo com toda sua leveza e sente dentro de si todo o Mundo, convocando-o a criar Poesia a partir de toda a Beleza que flutuava em todo lugar.
(Hoje eu cheguei em casa e tinha uma mancha de sangue no elevador. Você entraria em um elevador com uma mancha de sangue? Na verdade não era bem uma mancha, tava mais pra uma poça. Bem no chão, bem na minha frente. Eu travei.)
O JAIdOS levanta-se da cadeira e dirige-se à porta, em passos garbosos, sorrindo envergonhado para ninguém. Sai de seu quarto e sente todas as almas do Mundo se comunicando com a sua, tornando explícita a Poesia que permeia a todos nós. Dá alguns passos lentos e sem rumo, apenas deixando-se levar pelo Destino, procurando a Vida em qualquer lugar onde ela possa estar. Ele vê um Mendigo Esfarrapado (ME) no chão e se compadece, concentrando em si mesmo toda a dor do Universo. Sua Alma é grande como a Criação.
(Eu acabei entrando no elevador. Sozinho, aliás. Fiquei esperando um pouco pra ver se ninguém chegava e entrava comigo, mas passaram uns 5 minutos e nada. Entrei e a porta fechou atrás de mim. Fiquei encostado nela, olhando pro chão. Pra poça. Acho que o sangue era novo. Não sei. Não encostei pra ver se ainda tava quente. Não fiz nada. Só fiquei olhando. Dava pra ver meu rosto refletido na poça, por causa da luz. Não tinha cheiro nenhum.)
O JAIdOS anda mais alguns metros até um prédio de aspecto curioso. Fisicamente é comum e apoético como os outros, cinzento e morto, mas emana alguma energia de força extraordinária, impossível, absoluta; divina. O JAIdOS encara a porta aberta por alguns segundos e segue prédio adentro. Logo encontra uma outra porta aberta (Ah, a magia das portas!) que leva a uma escada. Sobe-a com o corpo trêmulo dos mártires, pé após pé, respirando fundo e sentindo-se invadido por algo que não sabe explicar. Atinge o topo em pouco tempo e vê o Mundo; angelifica.
(O elevador parou no meu andar, o último. Abri a porta e na frente da minha porta tinha um cadáver. Um cara de uns 20 anos. Eu travei por meio segundo e vomitei em cima dele, não consegui me controlar. Entrei em casa correndo, meio tremendo. Não liguei pra polícia, alguém deve ligar logo. O enjôo não passa.)
(Hoje eu cheguei em casa e tinha uma mancha de sangue no elevador. Você entraria em um elevador com uma mancha de sangue? Na verdade não era bem uma mancha, tava mais pra uma poça. Bem no chão, bem na minha frente. Eu travei.)
O JAIdOS levanta-se da cadeira e dirige-se à porta, em passos garbosos, sorrindo envergonhado para ninguém. Sai de seu quarto e sente todas as almas do Mundo se comunicando com a sua, tornando explícita a Poesia que permeia a todos nós. Dá alguns passos lentos e sem rumo, apenas deixando-se levar pelo Destino, procurando a Vida em qualquer lugar onde ela possa estar. Ele vê um Mendigo Esfarrapado (ME) no chão e se compadece, concentrando em si mesmo toda a dor do Universo. Sua Alma é grande como a Criação.
(Eu acabei entrando no elevador. Sozinho, aliás. Fiquei esperando um pouco pra ver se ninguém chegava e entrava comigo, mas passaram uns 5 minutos e nada. Entrei e a porta fechou atrás de mim. Fiquei encostado nela, olhando pro chão. Pra poça. Acho que o sangue era novo. Não sei. Não encostei pra ver se ainda tava quente. Não fiz nada. Só fiquei olhando. Dava pra ver meu rosto refletido na poça, por causa da luz. Não tinha cheiro nenhum.)
O JAIdOS anda mais alguns metros até um prédio de aspecto curioso. Fisicamente é comum e apoético como os outros, cinzento e morto, mas emana alguma energia de força extraordinária, impossível, absoluta; divina. O JAIdOS encara a porta aberta por alguns segundos e segue prédio adentro. Logo encontra uma outra porta aberta (Ah, a magia das portas!) que leva a uma escada. Sobe-a com o corpo trêmulo dos mártires, pé após pé, respirando fundo e sentindo-se invadido por algo que não sabe explicar. Atinge o topo em pouco tempo e vê o Mundo; angelifica.
(O elevador parou no meu andar, o último. Abri a porta e na frente da minha porta tinha um cadáver. Um cara de uns 20 anos. Eu travei por meio segundo e vomitei em cima dele, não consegui me controlar. Entrei em casa correndo, meio tremendo. Não liguei pra polícia, alguém deve ligar logo. O enjôo não passa.)
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Buzzzzzzzz
E sabe quando você só quer que ele pare de falar por pelo menos um minuto e ele continua falando sem parar sem parar e parece que ele porra parece que ele nem respira direito e continua falando e você pede pede mesmo fala pra ele parar de falar pelamordedeus porra pára de falar e ele continua assim mesmo e aí você pede de novo mas ele diz que tem tanta coisa pra falar e tanto tempo e parece que você vai morrer e você nem sabe mais do que ele tá falando e parece só zumbido e você tem vontade de morrer e parece que são anos e aí você se descontrola e pega a faca em cima da mesa e
As portas do paraíso são pintadas de ouro
mas não são maciças.
Não há diferença,
são só comentários.
Eu encontrei o caminho e ele era símbolos e (incompreensível)
e é só silêncio.
As portas do paraíso são pintadas de ouro
mas não são maciças.
Não há diferença,
são só comentários.
Eu encontrei o caminho e ele era símbolos e (incompreensível)
e é só silêncio.
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