sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

DVS

O Jovem Artista Idealista de Olhar Sonhador (JAIdOS) senta na cadeira ao lado da janela, com os olhos fixos no mundo afora, a luz transformada em milhões de pontos brilhantes lambendo o seu rosto, seu coração pulsando junto do mundo, em dezenas de batidas intensas que fazem circular toda sua Magnífica Energia, sua Belíssima Alma. Ele respira fundo com toda sua leveza e sente dentro de si todo o Mundo, convocando-o a criar Poesia a partir de toda a Beleza que flutuava em todo lugar.

(Hoje eu cheguei em casa e tinha uma mancha de sangue no elevador. Você entraria em um elevador com uma mancha de sangue? Na verdade não era bem uma mancha, tava mais pra uma poça. Bem no chão, bem na minha frente. Eu travei.)

O JAIdOS levanta-se da cadeira e dirige-se à porta, em passos garbosos, sorrindo envergonhado para ninguém. Sai de seu quarto e sente todas as almas do Mundo se comunicando com a sua, tornando explícita a Poesia que permeia a todos nós. Dá alguns passos lentos e sem rumo, apenas deixando-se levar pelo Destino, procurando a Vida em qualquer lugar onde ela possa estar. Ele vê um Mendigo Esfarrapado (ME) no chão e se compadece, concentrando em si mesmo toda a dor do Universo. Sua Alma é grande como a Criação.

(Eu acabei entrando no elevador. Sozinho, aliás. Fiquei esperando um pouco pra ver se ninguém chegava e entrava comigo, mas passaram uns 5 minutos e nada. Entrei e a porta fechou atrás de mim. Fiquei encostado nela, olhando pro chão. Pra poça. Acho que o sangue era novo. Não sei. Não encostei pra ver se ainda tava quente. Não fiz nada. Só fiquei olhando. Dava pra ver meu rosto refletido na poça, por causa da luz. Não tinha cheiro nenhum.)

O JAIdOS anda mais alguns metros até um prédio de aspecto curioso. Fisicamente é comum e apoético como os outros, cinzento e morto, mas emana alguma energia de força extraordinária, impossível, absoluta; divina. O JAIdOS encara a porta aberta por alguns segundos e segue prédio adentro. Logo encontra uma outra porta aberta (Ah, a magia das portas!) que leva a uma escada. Sobe-a com o corpo trêmulo dos mártires, pé após pé, respirando fundo e sentindo-se invadido por algo que não sabe explicar. Atinge o topo em pouco tempo e vê o Mundo; angelifica.

(O elevador parou no meu andar, o último. Abri a porta e na frente da minha porta tinha um cadáver. Um cara de uns 20 anos. Eu travei por meio segundo e vomitei em cima dele, não consegui me controlar. Entrei em casa correndo, meio tremendo. Não liguei pra polícia, alguém deve ligar logo. O enjôo não passa.)

2 comentários:

Anônimo disse...

xD huhahahah
toda a expectativa (minha ou do eu lírico que está entre parentesis xD) de não haver um corpo. analisa a poça, não se atreve a mais que olhar e então o cadaver. :/ mas fiquei indignada com essa passividade... isso que dá.. é só mais um sonhador. u.u poeta ou não.

como quase todo mundo: vê um mendigo esfarrapado se compadece, mas segue adiante... :/ não é sempre que tem algo a ser feito.

Cidadão ³ disse...

Quanto ao seu comentário que é "uma paródia", sim, o é e é claro que é

e só pode ser tipo zoação mesmo.