terça-feira, 8 de julho de 2008

Amostra/e-se/valsa

E então ela desistiu de ser compreensiva e deu três tiros na testa dele: melhor escolha da sua vida, provavelmente. Se eu soubesse o beabá, mon amour, escrevia uma história muito linda pra você; como não sei, acaba tendo de ser... É assim: ela atirou e agora olha pro chão: valsa para trás, sangue nos sapatos. Não respira fundo nem anervosa-se, só passinho lá e cá.

Agora diga: e se digamos reverte? Suga: na cama novamente. É ontem. Confusainda, checa, checa, checa: é ontem mesmo. Sonho? Não: tudo se repete. A pergunta é: a valsa é repetível? Ela vai andando passo repasso tonta; mesmo? Ele está lá: o mesmo blábláblá. A mão ao bolso, coldre. É o saque: interrupção.

Caio se desdebruça: campainhamisericórdia? Vai andando e deixa o teclado caído, barrinha piscando. Pisa leve mas tenta fazer barulho. Chega lá. Olhomágico: Fernanda.

A porta está aberta. Fernanda entra e diz “Bom dia” e Caio responde “Bom dia”. Ela se inclina e lhe dá um beijo na bochecha. Ele se retrai um pouco. Ambos andam casa adentro, conversando generalidades. Fernanda sempre se inclina 12% a mais do que o necessário ao falar; Caio não percebe. Sentam ao sofá, é uma quitinete, Caio não oferece água. Já guia, falhou.

Na longa história dos relacionamentos, nunca houve nenhum mais espelhado e sem sentido do que o de Caio e Fernanda. Psicologia inaplicada talvez fosse um bom nome, eu não sei. Era isso que talvez se focasse na história d’Ela.

Ela atirou de novo e de novo e de novo até os dedos cansarem.

Seria bom se vocês conseguissem ver isso ser escrito: as letras transbordando pelos lados, tão bonito...

poema interno

não gosto de abrir minhas janelas

nunca gostei

elas fazem sol.

não sei

imitar a voz de caio

os ritmos se confundem

sem muita música.

Ela me olha e não vai embora e eu sento e ela não vai embora e ela diz coisas e não vai embora e eu escuto e ela não vai embora. É a mesma coisa que aquela vez quando eu tinha 9 anos e veio aquele Rafael em casa e eu tava gripado eu odeio gripe meu nariz ficava fazendo barulho e eu achava que era o barulho do sofá enferrujando e ele não ia embora e não queria fazer nada e eu dizia videogame e ele não e futebol e não e comer e não e tv e não e aí ele foi embora só no dia seguinte e eu que raiva e ele era filho de um senador, alguma coisa assim. E aí eu pisquei e ela tá na minha frente segurando a minha mão olhando na minha cara e eu olho pro quarto e a tela do computador apagou, será que é o protetor de tela ou desligou, eu não tinha salvo nada e quero levantar e ela tá me beijando e ela beija bem e que merda não vai dar tempo de nada e hoje ela tá beijando diferente, lembra uma vez em que ela me beijou bêbada na casa do felipe, ela tá bêbada? não tá com gosto, sei lá, a língua dela tá áspera, o que foi que houve?

6 comentários:

Billie disse...

A melhor parte dessa suposta narrativa em esteroides é que na parte que ela (ela?) está de saco cheio da outra, do Rafael, você faz a gente querer mandar eles irem pro inferno também com a falta de pontuação.
Mas o que eu gosto mesmo é de "A pergunta é: a valsa é repetível?"

CEG disse...

e se dissermos "revés"...o dinheiro vai para o banco, para o branco, muito provavelmente.

Ora bolas, ora bem, o ritmo fica mais escorregadio com os 's's do título na cabeça durante cada palavra.
Linguagem necessária. Linguagem desconcertada. Centrada na...-tum tum tum tumtum- nar-rativa. (com destaque pr'aliteração)
(Caio Gabriel).

hnrchcrnh disse...

Digno.

Anônimo disse...

A Valsa pode ser vista como a representação da elipse, que tem dois focos, desse modo, seu movimento é ambíguo (sugestão: alguém deveria me matar por falar em curvas geométricas.), ora se aproxima, ora se afasta. A valsa representa a quase fusão dos corpos e do desenlace...

Ironicamente, a valsa salva.

Ligia Carrasco disse...

Vale ser xereta? Se valer, já virei leitora do teu blog. Se não, continuarei às escondidas.

De resto, resta valsar.

Ligia Carrasco disse...

Sabe o menino que foi o terceiro a comentar aqui? O Henrique?
Então, te vi no blog dele. Sacou?
Beijo, menino.