gotas de lágrima
quando sono
enternecem.
meu sorriso chora
para você meu o quê
meu algo.
vou te dar meus olhos.
gosto de lágrima.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
sábado, 13 de outubro de 2012
bíblico
o homem de lábios pintados (e isso lá é homem? ora...) gostaria de dizer que o mundo é ele mesmo inevitável cheio de coisas um congestionamento de drinques uma mordidela de ursos, os planos pobres coitados, tudo pobre coitado, o que vale é deitar rolando por aí as respostas tão sérias cobertas de mãos lentas e cinzas. beijem as mãos. beijem os anéis.
e enquanto isso qualquer vagabundo deitado deixa claro que: só o livre. pé pós pão. o sol continua nascendo.
e a gente
embriagado
pede outra.
e enquanto isso qualquer vagabundo deitado deixa claro que: só o livre. pé pós pão. o sol continua nascendo.
e a gente
embriagado
pede outra.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
carta do além-mar.
...,
me desculpe a falta de formalidade ou de introdução ou de gramática ou de estilo mas você não sabe, desculpa, sei que é deseducado dizer esse tipo de coisa, entrar na cabeça dos outros, mas você não sabe, mesmo, o quanto eu sinto a sua falta, o quanto eu ardo, ardo, que palavra horrível, mas o quanto eu me sinto arder, mesmo, de dor, deitado, uma febre fantasma, absurda, que o termômetro imbecil não enxerga, o quanto eu me sinto queimando e desaparecendo deitado sozinho, o quanto o meu corpo me parece ridículo, vazio, o quanto eu me sinto com vontade de chorar sozinho lambendo as paredes, e o quanto é difícil mesmo falar isso, mesmo que eu não esteja falando, eu sinto minha garganta engarrafada na ponta dos meus dedos, é difícil, mas não é tão difícil quanto deitar sozinho, e pensar em nós dois naquela vida, que já é outra vida, outro século, outro continente, outro sol, e agora parece que eu sou só um cobertor a mais na minha cama, tem a roupa de cama, o lençol, o edredom e eu, mais uma camada só, mais fina, estático e espalhado, e eu fico pensando nos meus dedos desenrolados, quebradiços, eu inteiro quebradiço, como uma ponta de fio de cabelo se partindo em dois, mas eu sou um só, não posso me abrir ao meio e abraçar o meu estômago, e eu vejo você nas cortinas, feito fantasma, e vejo você nas cadeiras, girando, com uma pressão enorme sobre o centro, até desaparecerem, quando a cadeira sumir dentro do próprio círculo eu posso começar a pensar em sentar nela de novo, tantas etapas nessa ação, tão difícil, e é difícil sair andando, as coisas mais simples, como se as minhas pernas não fossem minhas, e é claro que elas não são, e é isso que me deixa triste, você me roubou de mim, não é uma acusação, não é ódio, eu planejei esse roubo com você, não quero lhe imputar crime nenhum, mas isso é verdade, não posso mais mandar em nada, no máximo o lamento impotente de talvez um cachorro preso na área de serviço, pequeno, ridículo, sem as orelhas, e os meus olhos fechados explodem, não adianta, eu vejo os seus, como se minhas pálpebras fossem binóculos ou espelho retorcido, agora, ridículo usar a palavra agora, agora que eu vivo num tempo sem tempo, tentando me arrastar no meio de um tempo que é quase geléia, agora eu podia gritar, podia tentar gritar por anos, mas não ia passar mais de um segundo até eu ficar rouco, e de que ia adiantar, você não ia me ouvir, eu não sou barítono, eu não sou tenor, eu não sei cantar, só com você, pra você, e tudo que eu digo é água salgada, quando eu abro a boca só consigo vomitar o mar, todo um oceano de absurdos, mas nem nadar neles eu consigo, eles evaporam, o sol é mais forte, e o que me restou é tentar correr, correr de olhos fechados e rezar, rezando pra que as árvores sejam derrubadas antes que eu chegue, pra que os buracos sejam tampados, mas quem pode contar com isso, me diz, ninguém, e então isso é muito necessariamente uma tragédia, desenhado como tragédia, contado como tragédia, porque dentro de mim as coisas só sabem ser sussurros de quem sofre, eu sei, a culpa é minha, claro que é, mas eu só sei falar a verdade, pelo menos agora, assim, e o sol grita comigo pra dizer qualquer coisa, eu não sei mais ouvir, os lugares se espalhando por aí feito lagartos, eu abro os olhos e vejo tantas montanhas, tantas montanhas, e em cima delas têm casinhas, gente que mora a vida inteira em uma montanha e por isso sabe que o mundo inteiro é bem pequenininho, nem conseguem ver a gente, essa gente toda tão longe, não consigo imaginar mesmo quando imagino, eu só consigo imaginar barcos, todos eles, as mil caravelas e os transatlânticos e os submarinos, incessantemente derretendo no mar, todos eles zarpando mil vezes por segundo na velocidade da luz, e sempre incapazes, é claro, todos os barcos só âncoras, e enquanto os barcos e as montanhas e os padres e os pássaros, enquanto tudo reza e come e morre, eu deitado, eu penso muito em você, me desculpa, eu sei que isso é invasão de privacidade, ainda que abstrata, invadir você assim, mas eu não mando em mim, te disse, eu deitado aqui suando e sonhando junto dos meus cobertores, nos meus sonhos eu amo você, você sabe, e quando eu acordo também, suado, sem decidir se eu choro ou se não, me desculpa, eu não quero te perturbar, essa é a última coisa que eu quero, mas eu não sei mais o que fazer, essas coisas que eu estou dizendo é que me dizem, eu me sinto muito mais acessório pra isso do que eu mesmo, eu deitado aqui debaixo do ventilador tentando pensar no barulho que ele faz pra não pensar em você.
me desculpe a falta de formalidade ou de introdução ou de gramática ou de estilo mas você não sabe, desculpa, sei que é deseducado dizer esse tipo de coisa, entrar na cabeça dos outros, mas você não sabe, mesmo, o quanto eu sinto a sua falta, o quanto eu ardo, ardo, que palavra horrível, mas o quanto eu me sinto arder, mesmo, de dor, deitado, uma febre fantasma, absurda, que o termômetro imbecil não enxerga, o quanto eu me sinto queimando e desaparecendo deitado sozinho, o quanto o meu corpo me parece ridículo, vazio, o quanto eu me sinto com vontade de chorar sozinho lambendo as paredes, e o quanto é difícil mesmo falar isso, mesmo que eu não esteja falando, eu sinto minha garganta engarrafada na ponta dos meus dedos, é difícil, mas não é tão difícil quanto deitar sozinho, e pensar em nós dois naquela vida, que já é outra vida, outro século, outro continente, outro sol, e agora parece que eu sou só um cobertor a mais na minha cama, tem a roupa de cama, o lençol, o edredom e eu, mais uma camada só, mais fina, estático e espalhado, e eu fico pensando nos meus dedos desenrolados, quebradiços, eu inteiro quebradiço, como uma ponta de fio de cabelo se partindo em dois, mas eu sou um só, não posso me abrir ao meio e abraçar o meu estômago, e eu vejo você nas cortinas, feito fantasma, e vejo você nas cadeiras, girando, com uma pressão enorme sobre o centro, até desaparecerem, quando a cadeira sumir dentro do próprio círculo eu posso começar a pensar em sentar nela de novo, tantas etapas nessa ação, tão difícil, e é difícil sair andando, as coisas mais simples, como se as minhas pernas não fossem minhas, e é claro que elas não são, e é isso que me deixa triste, você me roubou de mim, não é uma acusação, não é ódio, eu planejei esse roubo com você, não quero lhe imputar crime nenhum, mas isso é verdade, não posso mais mandar em nada, no máximo o lamento impotente de talvez um cachorro preso na área de serviço, pequeno, ridículo, sem as orelhas, e os meus olhos fechados explodem, não adianta, eu vejo os seus, como se minhas pálpebras fossem binóculos ou espelho retorcido, agora, ridículo usar a palavra agora, agora que eu vivo num tempo sem tempo, tentando me arrastar no meio de um tempo que é quase geléia, agora eu podia gritar, podia tentar gritar por anos, mas não ia passar mais de um segundo até eu ficar rouco, e de que ia adiantar, você não ia me ouvir, eu não sou barítono, eu não sou tenor, eu não sei cantar, só com você, pra você, e tudo que eu digo é água salgada, quando eu abro a boca só consigo vomitar o mar, todo um oceano de absurdos, mas nem nadar neles eu consigo, eles evaporam, o sol é mais forte, e o que me restou é tentar correr, correr de olhos fechados e rezar, rezando pra que as árvores sejam derrubadas antes que eu chegue, pra que os buracos sejam tampados, mas quem pode contar com isso, me diz, ninguém, e então isso é muito necessariamente uma tragédia, desenhado como tragédia, contado como tragédia, porque dentro de mim as coisas só sabem ser sussurros de quem sofre, eu sei, a culpa é minha, claro que é, mas eu só sei falar a verdade, pelo menos agora, assim, e o sol grita comigo pra dizer qualquer coisa, eu não sei mais ouvir, os lugares se espalhando por aí feito lagartos, eu abro os olhos e vejo tantas montanhas, tantas montanhas, e em cima delas têm casinhas, gente que mora a vida inteira em uma montanha e por isso sabe que o mundo inteiro é bem pequenininho, nem conseguem ver a gente, essa gente toda tão longe, não consigo imaginar mesmo quando imagino, eu só consigo imaginar barcos, todos eles, as mil caravelas e os transatlânticos e os submarinos, incessantemente derretendo no mar, todos eles zarpando mil vezes por segundo na velocidade da luz, e sempre incapazes, é claro, todos os barcos só âncoras, e enquanto os barcos e as montanhas e os padres e os pássaros, enquanto tudo reza e come e morre, eu deitado, eu penso muito em você, me desculpa, eu sei que isso é invasão de privacidade, ainda que abstrata, invadir você assim, mas eu não mando em mim, te disse, eu deitado aqui suando e sonhando junto dos meus cobertores, nos meus sonhos eu amo você, você sabe, e quando eu acordo também, suado, sem decidir se eu choro ou se não, me desculpa, eu não quero te perturbar, essa é a última coisa que eu quero, mas eu não sei mais o que fazer, essas coisas que eu estou dizendo é que me dizem, eu me sinto muito mais acessório pra isso do que eu mesmo, eu deitado aqui debaixo do ventilador tentando pensar no barulho que ele faz pra não pensar em você.
a ronda
só moça
sempre moça
dentes mansos
desliza
dançarina
pés no lago.
os velhos
gargalhantes
sem os olhos
abjuram
mastigam
o diabo.
o guarda
bem morrer
salvo em si
castelante
cavalgando
qual vazio.
o filho
gigantesco
penetra
ri
dissolvido
bêbado de prazer.
os anjos
mãos nas lanças
incendiados
cinzentos
assobiando
a marselhesa.
e eu
meus sopros
decantados
moedas
valises
carma de ver.
sempre moça
dentes mansos
desliza
dançarina
pés no lago.
os velhos
gargalhantes
sem os olhos
abjuram
mastigam
o diabo.
o guarda
bem morrer
salvo em si
castelante
cavalgando
qual vazio.
o filho
gigantesco
penetra
ri
dissolvido
bêbado de prazer.
os anjos
mãos nas lanças
incendiados
cinzentos
assobiando
a marselhesa.
e eu
meus sopros
decantados
moedas
valises
carma de ver.
sábado, 6 de outubro de 2012
palavra carne
dizem que eu sou desfigurado
pois me falta um pedaço
mas hoje já não sei de quê.
pode ser de perna
ou de pescoço
ou de asa pênsil.
ou de mal-a-cor.
não vou perguntar.
pode ser a minha alma
não vou perguntar.
posso ser incompleto por sem pai
ou incorreto por sem pés
infalível por sem rumo
incorreto por sem mim.
o arrastar-se
tentativo
pelo shopping
traz cansaços
exclusivos
dos zumbis:
sobrancelhas cenográficas de homens que não sabem rastejar mas aprendem para sempre e desaprendem a parar e então.
esse é um canto sobre mim:
os meus braços e os meus peitos e o meu choro
os meus olhos marejados e vazios
meu orgulho alexandrino de quem s'expõe
o troféu super bonito do homem-arte.
que lindas minhas cicatrizes do sem futuro!
que incríveis as minhas dúvidas de quem está longe do amor!
que nobres os meus sussurros do semi-órfão!
que acadêmicos os meus gorfos do acadêmico consciente
da própria palavra
sobre a própria palavra
a própria palavra
um artifício
uma lama
technicolor.
sucesso: se apagar
na honestidade!
desistir de seu sujeito em qualquer rima
que importa se eu lamento qualquer coisa?
minha poeira me justifica via soluço
e o soluço gravado em 44hz
dá conta
(a patética tentativa de salvação-destruição-libertação
via cataclisma do poema
é só mais mar.)
velejo:
o meu amor
transatlântico
agora náufrago
raiz fonema
bem arejada
de uma tragédia;
o meu pai
apodrecido
um flashback;
as aventuras
que pensei
ter perecido
varandas
camomilas
verbos quaisquer.
qualquer grito
quiçá pedido
encarnado
(ou impresso
cruel-macabro
em sangue nu)
agora assume
mais-que-verdade
suas cordinhas
de marionete ridícula sem propósito patética horrível
negação.
meu testamento
(cabe em dedal)
poema-fim
e
também
mapa pra gente fugir.
pois me falta um pedaço
mas hoje já não sei de quê.
pode ser de perna
ou de pescoço
ou de asa pênsil.
ou de mal-a-cor.
não vou perguntar.
pode ser a minha alma
não vou perguntar.
posso ser incompleto por sem pai
ou incorreto por sem pés
infalível por sem rumo
incorreto por sem mim.
o arrastar-se
tentativo
pelo shopping
traz cansaços
exclusivos
dos zumbis:
sobrancelhas cenográficas de homens que não sabem rastejar mas aprendem para sempre e desaprendem a parar e então.
esse é um canto sobre mim:
os meus braços e os meus peitos e o meu choro
os meus olhos marejados e vazios
meu orgulho alexandrino de quem s'expõe
o troféu super bonito do homem-arte.
que lindas minhas cicatrizes do sem futuro!
que incríveis as minhas dúvidas de quem está longe do amor!
que nobres os meus sussurros do semi-órfão!
que acadêmicos os meus gorfos do acadêmico consciente
da própria palavra
sobre a própria palavra
a própria palavra
um artifício
uma lama
technicolor.
sucesso: se apagar
na honestidade!
desistir de seu sujeito em qualquer rima
que importa se eu lamento qualquer coisa?
minha poeira me justifica via soluço
e o soluço gravado em 44hz
dá conta
(a patética tentativa de salvação-destruição-libertação
via cataclisma do poema
é só mais mar.)
velejo:
o meu amor
transatlântico
agora náufrago
raiz fonema
bem arejada
de uma tragédia;
o meu pai
apodrecido
um flashback;
as aventuras
que pensei
ter perecido
varandas
camomilas
verbos quaisquer.
qualquer grito
quiçá pedido
encarnado
(ou impresso
cruel-macabro
em sangue nu)
agora assume
mais-que-verdade
suas cordinhas
de marionete ridícula sem propósito patética horrível
negação.
meu testamento
(cabe em dedal)
poema-fim
e
também
mapa pra gente fugir.
conselho do proselitismo & não-poema
esse é um poema
de protesto;
portanto
a sua estética
é capenga!
pois desde
os maus leitores
de maiakovski
sabemos
que a política
despreza o estilo!
portanto
enquanto emulo
(quanta arrogância!)
os maus poemas
proclamo
sem pés nas línguas
o tal dizer:
a defesa
irrestrita
do governismo
é imbecil
escrota
e absurda!
encampar
entrincheirados
a qualquer coisa
é destruir
rapidamente
credibilidade!
defender
cinicamente
os nossos monstros
é derrotar
cinicamente
os nossos homens!
seus perdigotos
avantajados
em prol do nada
derretem
maracujá
ao sol do zero.
e portanto ando estreito indiscutido
sem tarja
fingindo nada.
de protesto;
portanto
a sua estética
é capenga!
pois desde
os maus leitores
de maiakovski
sabemos
que a política
despreza o estilo!
portanto
enquanto emulo
(quanta arrogância!)
os maus poemas
proclamo
sem pés nas línguas
o tal dizer:
a defesa
irrestrita
do governismo
é imbecil
escrota
e absurda!
encampar
entrincheirados
a qualquer coisa
é destruir
rapidamente
credibilidade!
defender
cinicamente
os nossos monstros
é derrotar
cinicamente
os nossos homens!
seus perdigotos
avantajados
em prol do nada
derretem
maracujá
ao sol do zero.
e portanto ando estreito indiscutido
sem tarja
fingindo nada.
todos os males as cores: vermelho
Os passos de quem caminha são outros dos de quem anda: não é a resposta simples de que contemplam ou observam ou mesmo rastejam, a definição é mais metafísica e mais triste: os passos de quem caminha doem, cada pé-pós-pé uma chaga quase cristã, uma lágrima complicada. Quem caminha sofre, sem entender muito bem porque. E era isso que Isabela fazia, caminhava sem entender direito, nada.
Entender: Isabela, pernas confusas, na praça. Grandes paredes sonolentas desabando eternas sobre um chão cavado, escavado, ingrato. E o olho de Isabela: incauto.
Suas pernas-e-mais-pernas seriam um dia um mapa, que quer dizer história, que quer dizer memória, que quer dizer terror - mas agora só plantadas, ancoradas no meio da praça, bandeira complicada de um não-país sem procurar colônias: um pequeno espaço de.
É isso que ela fez: moveu. Os olhos de Isabela perderam suas presas e foram levados para outras, praça após praça, metro após metro, mundo após mundo. É de saber: Isabela, aventureira. Isabela, âncora cinética. Isabela, sem saber.
Compreendamos: Isabela viaja pois rejeita (ou melhor: teme, abomina, exorciza) a história de sua vida;: a história de menina boa bela rica linda cheia feita sempre que anda por aí cautelosa & casa & deita & cuida & doida & morre - Isabela quer cumes e vales e bombas. Por isso caminha. E por isso aqui: numa praça sem nome onde sempre acabam as gentes cujas histórias viraram esquisito.
É preciso descrever: é preciso sentir: é impossível sentir: é preciso dizer: nesse instante (que é eterno) Isabela dá seus primeiros passos (os mais primeiros de todos) no meio da praça viajante, e cada passo é uma espada nos seios, um rasgar do ventre que traz ao mundo não só sangue, mas também dor: não só ela dói, também pare dor, dor que nasce, vive e morre, dor crente e sangue, e cada passo uma chaga aos pés, cada metro um apocalipse, rastejando altiva sem parar de sorrir, suas bochechas vomitando bruxas, o povo em volta a aplaudir, e um corpo chora sem olhos ou nariz.
Avaliemos: Deustodopoderoso, capaz das mais incríveis canalhices, proibiu as milagreiras. Proibiu as curandeiras. Proibiu as melindrosas. Renegou as montanheiras. E então é claro, sem palavra ou pensar: Isabela malsucede.
Véu-cobrir: sua carcaça em podridão, Isabela recusa. Os lenços e vídeos. As palmas e moças. Corre com vontade, pra longe. Pra sempre.
perde. cai. erra.
A moça: encena travestida suas danças. É claro que será por sempre eterna: delira pela areia sempre só sangue. A pena irrestrita indiscutível: sambando vermelhecida sem vontade.
Entender: Isabela, pernas confusas, na praça. Grandes paredes sonolentas desabando eternas sobre um chão cavado, escavado, ingrato. E o olho de Isabela: incauto.
Suas pernas-e-mais-pernas seriam um dia um mapa, que quer dizer história, que quer dizer memória, que quer dizer terror - mas agora só plantadas, ancoradas no meio da praça, bandeira complicada de um não-país sem procurar colônias: um pequeno espaço de.
É isso que ela fez: moveu. Os olhos de Isabela perderam suas presas e foram levados para outras, praça após praça, metro após metro, mundo após mundo. É de saber: Isabela, aventureira. Isabela, âncora cinética. Isabela, sem saber.
Compreendamos: Isabela viaja pois rejeita (ou melhor: teme, abomina, exorciza) a história de sua vida;: a história de menina boa bela rica linda cheia feita sempre que anda por aí cautelosa & casa & deita & cuida & doida & morre - Isabela quer cumes e vales e bombas. Por isso caminha. E por isso aqui: numa praça sem nome onde sempre acabam as gentes cujas histórias viraram esquisito.
É preciso descrever: é preciso sentir: é impossível sentir: é preciso dizer: nesse instante (que é eterno) Isabela dá seus primeiros passos (os mais primeiros de todos) no meio da praça viajante, e cada passo é uma espada nos seios, um rasgar do ventre que traz ao mundo não só sangue, mas também dor: não só ela dói, também pare dor, dor que nasce, vive e morre, dor crente e sangue, e cada passo uma chaga aos pés, cada metro um apocalipse, rastejando altiva sem parar de sorrir, suas bochechas vomitando bruxas, o povo em volta a aplaudir, e um corpo chora sem olhos ou nariz.
Avaliemos: Deustodopoderoso, capaz das mais incríveis canalhices, proibiu as milagreiras. Proibiu as curandeiras. Proibiu as melindrosas. Renegou as montanheiras. E então é claro, sem palavra ou pensar: Isabela malsucede.
Véu-cobrir: sua carcaça em podridão, Isabela recusa. Os lenços e vídeos. As palmas e moças. Corre com vontade, pra longe. Pra sempre.
perde. cai. erra.
A moça: encena travestida suas danças. É claro que será por sempre eterna: delira pela areia sempre só sangue. A pena irrestrita indiscutível: sambando vermelhecida sem vontade.
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