segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Vozes

O ciclo inicia o ciclo inicia o ciclo inicia o ciclo inicia o ciclo inicia...

Ela só sabe correr desse jeito, meio saltando e meio andando rápido, as pernas desencontrando-se a cada passo, dando a impressão de que ela vai cair a qualquer momento. Eu não gosto de ver, me dá aflição. Ela estava na minha frente, conversando, quando virou a cara para mim e saiu correndo, correndo bem rápido. Foi isso que me assustou: ela não corre tão rápido assim, ela não corre certo assim. Ela não parecia estar correndo de brincadeira. Demorei uns dez segundos para perceber isso, e então saí eu mesmo correndo atrás dela. (Você está me ouvindo?) Ela já tinha virado a esquina há algum tempo quando eu cheguei. Olhei para os dois lados e ela não estava lá, não em lugar algum onde eu pudesse vê-la. (Presta atenção! Por favor!) Eu continuei andando para qualquer lado, sem saber direito onde procurar. Têm várias casas na rua onde ela virou, e eu não podia procurar em cada uma. Só passei por perto gritando o nome dela, pedindo pra ela voltar, mas acho que ela não me escutou. Na hora eu pensei que isso não fosse tão importante, mas quando o tempo foi passando eu fui ficando cada vez mais desesperado e agora eu acho que se eu tivesse entrado nas casas procurando talvez tivesse feito alguma diferença e eu simplesmente não consigo parar de pensar nisso porque eu não consigo mais lembrar direito como é a voz dela e isso me desespera e eu não sei.

Eu não sei o que houve, eu pisquei e foi como se eu fosse Deus, olhando a mim mesma correndo (de cima) sem saber pra onde, e você não tem noção de como isso assusta. O estranho é que eu ainda tenho um corpo, algo assim, eu ainda sinto coisas, e ainda consigo respirar, e ouvir meu coração bater. Mas eu continuo assustada... Aí eu vejo ele lá embaixo, correndo atrás de mim, e eu me vejo entrando em alguma casa e a porta fechando, e não consigo entrar lá. Eu grito pra ele VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO e ele não percebe, eu peço pra ele prestar atenção e ele não ouve. Ele me procura por mais algum tempo e depois desiste, some de lá, e eu não consigo segui-lo. E aí eu fico lá. Na rua. Olhando as pessoas passarem. Os carros passarem. A porta da casa não abre mais, pelo jeito nem tem ninguém lá.

Eu acordo de manhã às seis. Eu faço meu café como todos os dias. Eu assisto à televisão e (Tranque a porta!) quase durmo sentado no sofá. Eu me levanto do sofá e vou tomar um banho. Eu me seco e deito na cama, sem fazer nada, durante algum tempo. Eu leio o jornal e não há nada de novo. Eu me masturbo deitado na cama e seco minhas mãos em uma toalha. Eu vou à (Não deixe ninguém entrar!) cozinha. Eu preparo o almoço. Eu começo a comer quando ouço passos. Eu continuo comendo quando a porta se abre. Eu não vejo quem entrou. Eu faço silêncio. Eu vejo uma garota passar direto, sem olhar para mim. Eu continuo comendo quando ela sobe as escadas. Eu termino o almoço e o coloco na pia. Eu subo para o banheiro e escovo os dentes. Eu encontro a garota deitada na minha cama. Eu me deito sobre ela. Eu faço sexo com ela. Eu digo algo e ela não responde. Eu a sacudo (Expulse a menina daí!) e ela não se mexe. Eu saio da cama e tomo um banho. Eu (Livre-se do corpo) vivo normalmente. Eu sou preso dois meses depois. Eu sou jul(Seja amigável com a polícia! Com o júri!)gado e condenado. Eu vou para a prisão. Eu tento conser(Conserte o passado!)tar o passado. Eu tento(Não dá, sério. Não dá. Eu tentei escrever isso, mas simplesmente não funciona. Sério. Olha só. Já deu tudo errado antes de começar. Olha esse título: o ciclo inicia etc que merda. Piada concretista? Lógica circular? É idiota, eu fico com vergonha só de olhar. E aí vai pra essa merda de situação desinteressante – um cara conversa com uma menina e ela sai correndo e porra, não tem nem personagens, nem desenvolvimento nenhum – eu estou escrevendo ou brincando com fantoches? E aí vem essas intromissões do outro texto (que pra começo de conversa são o único motivo pra eu ter tentado escrever isso) que não funcionam de jeito nenhum e são totalmente idiotas, artificiais, pomposas, sem contar toda essa bosta de escrever com fontes diferentes – ‘É pra representar vozes diferentes! Legal, né?’ – que me dá enjôo. E aí vem o segundo parágrafo, com toda essa babaquice meio metafísica/espiritual que nem chega a ser interessante – e você tem de se esforçar bastante pra uma coisa dessas ficar desinteressante – com a ‘alma’ da menina – que, olha só como eu sou iconoclasta, nem é uma alma, porque ela tem sensações – assistindo tudo – quantas vezes isso já foi feito? um bilhão? – observando a si mesma, putaquepariu, que coisa mais melosa, e eu ainda deixo explícito que as vozes eram dela – sim, eu acabei de chamar todos meus leitores de incapazes de perceber o mais óbvio, valeu, eu adoro vocês – e aí ainda vem aquele final horrível nesse parágrafo, uma coisa pseudodramática, ‘Pobre de mim, estou presa em um universo estático, assistindo à vida passar e ela nem é interessante’; foda-se você, espero que seja entediante e você se mate, pelo menos uma alma cometendo suicídio talvez fosse mais interessante; e porra, esse parágrafo é todo mal escrito, sem nenhuma linguagem própria, sem ritmo, e Arial é uma fonte feia pra caralho e não serve pra voz dessa menina, nem a pau, eu devia estar delirando, meu deus. E aí vem a pior parte, a mais estúpida, ridícula, exagerada, sem desculpas – eu entendo se ninguém nunca mais quiser ler algo meu depois dessa, porque ela me fez ter vergonha de mim mesmo, falando sério – essa coisa de começar todas as sentenças com Eu já é um mau começo, o que eu quero provar, esse cara é autista, maluco, ou só um homem comum?, nenhuma das alternativas é interessante, esse assunto nunca teve uma chance de dar certo, e aí eu tento brincar com o tempo e mandar mensagens do fim do texto pro começo, que também são ignoradas, mas se isso não deu certo no primeiro parágrafo por que daria aqui, saca? E aí fica pior, a menina entrando na casa, o cara comendo, eu pareço algum imitador com síndrome de down de algum surrealista qualquer; o cara transando com ela, sugestão de necrofilia – SÉRIO! EU ME ODEIO! ESSE É O PONTO MAIS BAIXO AO QUAL EU POSSO CHEGAR! – e a quebra no tempo totalmente estúpida, polícia, prisão, ‘tentativa de reconstruir o passado’, parece coisa d’O Efeito Borboleta, que é praticamente o pior filme que existe, olha o que eu estou tentando plagiar, putaqueopariu. Aí eu desisto realmente da minha dignidade e resolvo me intrometer no texto, dizer que eu sei que tá ruim, eu sei, sabe o que isso significa? eu estou tentando criar cumplicidade com o leitor pra que ele goste mais de mim, não é patético? funciona? se funcionar você é um idiota, pode ter certeza; eu começo a discutir como o texto é escrito, os elementos, e isso é tão estúpido – e intrusivo, imagina se você contasse pra alguém EXATAMENTE como você está quando ela te perguntasse; não seria um pouco exagerado e assustador? – e faço tudo isso na esperança de salvar esse texto, enchendo de piadinhas e hipérboles sem sentido, porque quebrar a Quarta Parede é tãããão ousado e diferente, ninguém nunca viu algo igual, não é verdade?, e eu escrevo nesse estilo totalmente irritante e auto-referencial, no presente que nem chega a ser coerente, e porra, o que é essa piada com síndrome de down?, eu cheguei ao mau gosto extremo, e aí eu revelo também que até mesmo comentar o texto é um método de escrever o texto e aliciar o leitor, e comentar o comentário também é um método, e comentar o comentário do comentário é outro; e o estilo dos meus comentários deveria ser diferenciado, talvez até outra fonte, ou outro parêntese, mas já não dá mais pra mudar, tarde demais, o texto está ficando cada vez mais confuso e insuportável, sem pontuação adequada nem ritmo, e eu reclamo sobre a pontuação e o ritmo, o que é idiota, e eu reclamo sobre ter reclamado sobre a pontuação e o ritmo, o que é mais idiota ainda, e sinceramente vocês não acham que escrever um adendo tão estúpido e egocêntrico é algo que alguém só poderia fazer caso precisasse muito de atenção e tivesse medo de ser detestado, e eu escrevo falando sobre a minha própria carência, a auto-ridicularização cativa o leitor, e eu mostro meus próprios métodos de enganar o leitor, o que na verdade é apenas outro método, e esse seria mais outro, e esse seria mais outro, e esse seria mais outro, e esse seria mais outro, e esse seria mais outro, etc.) mudar tudo e não consigo, tudo acontece do mesmo jeito.

PS: Vejam só. Esse texto é imenso e não foi escrito para ser visualizado no blogger. As condições originais são no Word. Se alguém assim preferir, me pede que eu envio, etc.

2 comentários:

Anônimo disse...

1) brincando com fantoches certamente...

2) ou então copia e cola e v~e se presta xD
3) e.... viva o código fonteeee! /o/

4)e... porra! vai dormir! odeio autor com sindrome de ficwriter enchendo o texto com N/A! u.ú

Cidadão ³ disse...

Você é tão prepotente que acredita ter escrito uma coisa muito pior do que escreveu.

Guei.