Era uma menina chamada Carmen, era uma menina era uma menina era uma menina. Claro que chamar de menina é menosprezar - um pouco de afastamento irônico, ai de mim - , esses substantivos todos diminuídos e falseados... 1995, talvez mais: recém saída do colégio, recém saída de nós e recém saída da graça de não ser necessário fazer decisôes: era hora de escolher profissão e virar mulher, talvez nessa ordem.
Preenchimento de uma folha: pior que querer escrever, ela me disse, em uma das vezes que me ligou chorando... Era feliz ou dinheiro? Não a menospreze por essa dicotomia, por favor... Não quero fazê-la parecer tão mentalmente simplificada, é claro! Há de se dizer que eu nunca fui vítima de tal brutalidade: há muito tinha decidido que era mesquinho demais esse caminho e resolvi trilhar o meu próprio, mesmo não o sabendo muito bem. Foi então um dia antes do prazo máximo que decidiu: filosofaria-se! Sem mais medo de pais, de dinheiro, de ver-se: minha Carmem queria ser pensadora.
Sumiu-se por tempo até a hora as listas: fui procurá-la e o espanto: Carmen Érica Borges, 1º lugar em economia. Quebrei minhas regras e liguei exigindo explanações: por acaso sentiu que era necessário mentir para mim? De todos eu era o que menos a julgaria, é claro (o que era mentira). A voz chorou: eu também não sei! Eu juro que era filosofia... Não sei o que aconteceu. Lá vou lá resolver isso amanhã.
Deu-se tudo por resolvido, tudo certo: vieram mais provas e mais acertos e mais sucesso, e uma noite memorável onde decidiu me ver, talvez um pouco enebriada, não sei se de si mesma ou de algo a mais. Carmem, pensista.
Foi então que chegou: o começo já do ano, bolsa, ânsia. Indicações de como chegar ao curso no bolso, cavalgou e foi. Desembarcando lá e: o prédio dizia grande: Economia. Irritou-se com a peça... Entrou e perguntou onde é que se filosofava. Disseram risada, que aquela era faculdade séria e não tinha disso não. Exasperoussaindo e foi andando todo o espaço, parando de porta em porta e perguntando como Carmen chegaria ao seu lugar - sempre a negativa total.
Voltou à casa suada, chorada, tremida: fui lá vê-la e abraçar. Minha Carmem só sabia dizer essas quatro palavras: "Não é possível..." Um pouco catatônica, acho. Passa-se: repetiu o cronograma mais seis ou sete vezes, sempre telefonando para lá e recebendo a resposta de que o curso estava lá, ora essa, e que seria de bom tom que ela fosse logo cursá-lo!, ora, senão perderia seu lugar.
No fim resignou-se: em mais uma ida viu novamente seu nome economicado e entrou pé hesitante: sentou meio morta e viu as aulas pelos próximos anos, formou-se e ficou rica. Casamos em 2000.
(texto meio nãoblog, mas.)
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5 comentários:
OMG algo que faz total sentido a primeira vez que é lido! ARE YOU OKAY? :P
Anyway, gostei, acho, sei lá. É como se a decisão tivesse sido retirada das mãos dela, e isso me deixa intrigada/feliz/nervosa tudo ao mesmo tempo, pq eu ando passando pelas mesmas coisas, sort of.
Quanto a 'filosofia' não existir mais...é quase verdade isso, mesmo q seja um texto e a intenção não tenha sido dizer q hoje em dia a educação só leva à riqueza material, é meio verdade. Aqui é, ao menos.
Realidade demais se escondendo em meio a ficção. Melikesdislikes.
"OMG algo que faz total sentido a primeira vez que é lido! ARE YOU OKAY? :P"
OMG! Quote that.
Gostei litros.
Uma estrutura fabular, eu diria. Esopo, também. George Orwell, talvez também dissesse. Fábula contemporânea? Talvez. Estão esperando "animaizinhos subindo de dois em dois"? Vão sifudê!
Eh a primeira vez que entro nesse bloggg e naum gosto de inganassaum hehe. Esopo num eh o do minotauro???
escreve direito, num esiste esasperoussaindu
lol pro comentário acima.
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